quinta-feira, 12 de abril de 2012

Transatlântico parte para viagem histórica que Titanic não completou há 100 anos
Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR
09/04/2012 | 09h24 | Navio



Quinze de abril de 1912 era mais uma jornada usual de trabalho para o operador de rádio Harold Thomas Cotton. A bordo do transatlântico Carpathia, ele planejava dormir cedo. Nos dois dias anteriores, Cotton havia ficado acordado até as 2h e as 3h, respectivamente. Antes de ir para a cama, porém, resolveu checar as últimas notícias – queria informações sobre a greve dos carvoeiros em Londres. Algo bem mais impactante que o movimento trabalhista, contudo, chegou aos seus ouvidos. “Venham logo. Nos chocamos com um iceberg. Essa é uma chamada ‘C.Q.D.’, meus velhos.”

Era 0h25 quando Cotton recebeu a mensagem incluindo a sigla que, tempos depois, seria substituída por S.O.S. O pedido de socorro fora enviado por Jack Phillips, operador do Titanic. Por isso, parecia inacreditável. O maior navio de passageiros até então construído, considerado “inafundável”, estava prestes a ser engolido pelo Atlântico. A partir daí, Cotton seria testemunha de relatos desesperados, até que o mar silenciou o Titanic. “Quando não ouvi mais sinais, soube que tudo tinha acabado”, relatou à edição de 19 de abril daquele ano do jornal The New York Times.

Cem anos depois, a tragédia que matou mais de 1,5 mil pessoas continua fascinando o público. Em Belfast, província britânica na Irlanda do Norte, um museu do navio com seis andares foi inaugurado em 31 de março, em uma espécie de comemoração que beira o grotesco, com sorridentes modelos vestidas com roupas da época, representando as damas que passariam momentos de horror dentro do transatlântico de luxo. Em cidades como Las Vegas e Orlando, nos Estados Unidos, e em Singapura, exposições com objetos resgatados pela RMS, empresa que detém os direitos sobre os restos do Titanic, fascinam os visitantes, que podem apreciar chapéus, ânforas e talheres, entre outros artefatos que foram parar a 4 mil metros de profundidade. Uma riqueza arqueológica que, agora, está sob a garantia da Convenção da Unesco sobre a Proteção do Patrimônio Cultural Subaquático.

Não é difícil explicar por que um desastre ocorrido há um século ainda impressiona um mundo que, no mesmo período, passou por duas guerras mundiais e testemunhou episódios sangrentos como o ataque dos Estados Unidos ao Vietnã e o desabamento das Torres Gêmeas do World Trade Center. O Titanic não foi apenas um navio que naufragou. O iceberg com o qual se chocou levou para o fundo do mar o símbolo do luxo, da modernidade, da onipotência que o homem acreditava ter naquele momento.

Azar e negligência
Pesquisador do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Oxford, o cientista e escritor Richard Corfield diz que além dos mitos que envolvem a história há a pergunta que, 100 anos depois, continua a incomodar: o que afundou o Titanic? “Um iceberg”, brinca. A verdadeira questão, segundo ele, é: por que o navio colidiu com o bloco de gelo e, mais, o que teria levado o mais moderno transatlântico da época para o fundo do oceano? “Para garantir a segurança, o Titanic incorporou todas as inovações tecnológicas disponíveis. O casco era mantido por 3 milhões de rebites feitos de aço maciço, material mais forte do que ferro forjado. O mais poderoso equipamento sem fio, o sistema de transmissão de rádio Marconi, também estava lá. Nada disso, porém, evitou o naufrágio.”

Para Corfield, o transatlântico foi azarado e uma conjunção de fatores estaria por trás da tragédia. “Ele afundou completamente menos de três horas depois de ter atingido o iceberg. Essa é a questão-chave da história. Como um navio de 46 mil toneladas afundou tão rapidamente?”, questiona. A resposta, afirma, está na construção da embarcação e nos eventos que ocorreram na viagem fatídica.

Entre os detalhes técnicos, o número de botes salva-vidas era menor do que o exigido por lei, além de eventos menos divulgados. Antes de o navio zarpar, o segundo oficial, David Blair, abandonou a tripulação. Com ele, ficou um objeto fundamental: a chave do armário onde estavam os binóculos mais precisos que seriam usados pelos vigias. O operador Jack Philips não repassou o primeiro aviso que havia recebido do navio Mesaba de que havia uma área de icebergs na localização de 42° a 41°, 25’ norte; 49° a 50°, 30’ oeste. Antes de sair para o intervalo, ele não informou o substituto, Harold Thomas Cotton, sobre isso.

Em 2000, pesquisadores da Universidade Johns Hopkins analisaram a composição dos rebites do navio e descobriram que a composição das peças não era uniforme e, ao contrário do que havia sido alardeado, o material não era de primeira qualidade. Os da parte da frente e os traseiros eram apenas de ferro e foram inseridos manualmente, quando deveriam ter sido anexados por prensas hidráulicas. Economia de custos é a explicação mais plausível para o fato. O posicionamento das hélices e do leme, de acordo com Corfield, também estava fora dos padrões de excelência.

Lições aprendidas
Diretor do Instituto Marinho e Marítimo da Universidade de Southampton e principal expert mundial em ciência de navios, Ajit Shenoi concorda que um só fator não teria levado o Titanic para o fundo do oceano. “Houve problemas com a formação da tripulação, assim como com a comunicação entre os navios. Em segundo lugar entra a tecnologia, com poucos acessórios salva-vidas e material de construção de qualidade inferior”, diz. Para ele, a tragédia teve ao menos um lado positivo. “Depois do Titanic, várias lições foram aprendidas. A maior delas diz respeito à oferta de capacidade de salva-vidas em navios de cruzeiro, algo que não estava contido nas normas e regulamentos naquele tempo.”

Ontem, o transatlântico Balmoral MS partiu com 1.309 passageiros de Southampton, na Inglaterra, para fazer a viagem histórica que o Titanic não conseguiu completar. Serão 12 dias de roteiro, com direito a palestras sobre o naufrágio e visitação à área do acidente. Cada passageiro pagou em libras o equivalente a entre R$ 8 mil e R$ 17 mil pelo roteiro.
Do Correio Braziliense.

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